13 abril 2015

Você cortou minhas asas



Lembro das aulas de filosofia em que 45 pessoas discutiam, colocavam seu pontos de vista sob o assunto da vez e, no final, chegávamos a lugar nenhum. 

A asa foi nascendo da lombar, aos poucos sendo moldada pelas pessoas que passavam e limitavam um pedaço dela. Era azul, longa e me permitia voar para vários lugares.

Acordei quando o despertador já havia tocado mais de quatro vezes em intervalos de dez minutos. Eu estava mais carregado e sentia que faltava um pedaço de mim. Encostei minhas mãos nas costas e me dei conta de que as asas não estavam mais lá. A ausência deixava um peso. As asas eram mais leves do que meu próprio corpo.

Tive que correr na estação antes que mais um metrô saísse, não tinha ninguém pra fazer meu café, nem pra me dar um beijinho antes de fechar a porta. No fim do dia, esquentei qualquer coisa pronta e senti falta de uma tapioca quentinha de queijo e um cafuné.

Já de noite, senti meu corpo mole e minha testa quente. Quando olhei para os lados e não percebi mais ninguém ali. Desvendei: a independência tinha cortado minhas asas. 

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