29 abril 2016

A platéia de comportamento uniforme no teatro.



A minha programação preferida para os dias livres é ir ao teatro. Não há coisa mais deliciosa do que ver aquela cortina se abrindo e ir revelando o cenário. Não há coisa mais prazerosa do que se envolver tanto com uma história ao ponto de me fazer levantar da cadeira e aplaudir forte, ao final dos espetáculos. O palco é uma caixinha de fósforos originalmente escura que, quando a gente abre, se depara com inúmeras surpresas.

Infelizmente, na cidade em que eu moro, é necessário ficar catando esses rolés pela internet, porque (mais uma vez, infelizmente) existe uma problemática de divulgação desses eventos maravilhosos. Muitas vezes, penso que o problema esteja na mídia que mostra aquilo que a beneficia e seus patrocinadores, parceiros, etc.

Portanto, um dos critérios que a mídia utiliza para escolher pautas e tudo mais se chama audiência. Isso me leva a refletir sobre o valor que as pessoas dão a arte. Logo tiro conclusões tão horríveis que torço para estar estar errado, mas tenho a plena consciência de que estou certo: as prioridades são outras. Isso está claro. Muita gente reclama de valores ridículos (como 5 ou 10 ou 15 reais) cobrados por muitas peças teatrais, ou livros, ou shows, mas não reclamam quando gastam o triplo desses valores em coisas pequenas. 

E foi pesquisando que descobri num blog o Encontro de Dança Nacional, que acontece aqui em Natal. Escolhi espetáculos da terça e quinta, dias mais confortáveis para me locomover, já que são os dias que meu pai trabalha até tarde. Como todos os espetáculos são gratuitos, muita gente viu isso como uma oportunidade de conhecer o Teatro (inclusive, isso dá brecha pra outra pauta: a elitização do teatro). Mas, parece que as pessoas vêem o teatro como uma plataforma de riso.

O espetáculo de terça se chama "La Wagner", dirigido por Pablo Rotemberg e protagonizado pelas bailarinas Carla Di Grazia, Carla Rimola, Ayelén Clavin e Josefina Gorostiza. São quatro mulheres que encenam atos com a intenção de transparecer ao corpo as influências da sociedade, mostrando também a capacidade e a força que o próprio corpo tem de desdobrar as influências e supera-las. É um espetáculo muito sério, em alguns momentos triste, em outros absurdamente impactante. As bailarinas ficam nuas do início ao fim. Mas, retomando a ideia de que as pessoas vêem o teatro como uma plataforma de riso, deixo registrado aqui que, em vários momentos, pessoas riram. Riram de cenas que não haviam graça. Riram no ato prelúdio, em que havia encenação de estupro. Riram. 

A segunda apresentação que assisti se chama "Sobre isto, meu corpo não cansa". Não há outra palavra para resumir se não for: m a r a v i l h o s o! A Quasar Cia. de Dança de Goiânia trouxe o amor da ponta dos dedos das mãos até a ponta dos dedos dos pés. Recheado de músicas de Mallu Magalhães e Clarice Falcão (lembra que eu disse que as músicas da Clarice Falcão são super teatrais?), o amor é o retrato constante que conversa com as canções e dão a elas um sentido especial. Mais uma vez a galera quebrava o clima da coisa rindo quando não tinha graça.

Eu fiquei pensando... poxa, será que um dia as pessoas vão assistir com gosto uma peça de drama, ou terror, ou romance e não ver graça? E mesmo não vendo graça, se divertir com isso? Ou será que sempre vai ser assim? 

Observação: esse texto é reflexivo, sem conter ódio ou raiva, ou qualquer um desses sentimentos feios.

Nenhum comentário:

Postar um comentário