02 março 2015

sobre uma geração neo-romântica, bukowski e amores enlatados | maria júlia

Vivemos num tempo que a arte tomas proporções previsíveis. Não, não é a arte como um todo. Mas as músicas, os filmes, os livros... tentamos retratar um amor, um sofrimento, uma dor. E o amor é uma palavra dita muitas vezes cedo demais. 
Bukowski é um dos meus escritores preferidos. E tem um vídeo que pedem a ele para definir o amor. É tão sincero. Tão cotidiano. 
"O amor é uma névoa que queima com a primeira luz de realidade". 
A nossa geração não quer receber o amor. Não quer sentir o amor. Não quer se dedicar ao amor. Queremos um amor enlatado, rotulado, medíocre. Queremos que alguém, tão pobre e cheio de dúvidas, exatamente como nós, venha nos salvar. E amor, que era para ser uma palavra com significado extraordinário, se torna mediana! Cada vez colocamos mais coisas em cima desse sentimento. Vamos sedimentando com uma solidão que beira a humanidade. Mas, como Bukowski nos definiu, o amor queima com a primeira luz de realidade. 
O amor já passou por inúmeras definições ao longo dos séculos. Poéticas, filosóficas, artísticas, políticas. Contudo, só consigo definir o amor com uma palavra: necessário. Ainda que ele seja destruído com a primeira luz de realidade ao amanhecer, pelo menos ele existiu. Pelo menos ele se instalou. E bato o pé dizendo que O Diário de uma Paixão é só um livro; uma história. As coisas não são assim: as pessoas se abandonam, as pessoas se decepcionam e, principalmente, as pessoas perdem o interesse. Então, pedir afeto para a eternidade é desrespeitar as proporções físicas e naturais de tal fenômeno. 
"É como um breve instante que depois desaparece". 
Aceitar o amor é aceitar a sua finitude, também. É aceitar que a névoa permanece por tempo indeterminado. Que, quando a névoa for queimada com a realidade, ela permanecerá em nós de alguma forma que ainda não compreendemos. Porque o amor não é banal. E banalizá-lo como banalizamos tudo nesses dias corriqueiros, não nos faz uma geração neo-romântica: nos faz uma geração de regresso orgulhoso. 
"É o livre-arbítrio. Por isso preste atenção nos sinais, não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o amor". Carlos Drummond de Andrade, Amor. 
*Imagens tiradas do Tumblr. 

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