28 janeiro 2016

Não ultrapasse


Da primeira vez que me levaram até aquele lugar, fomos para o extremo de uma ponta. Parecia que o espaço era infinito para mim, mas quem cresce sabe que não é. De fato, a lembrança que tenho é de um caminho enorme e inclinado, remetendo a um escorrego, só que feito de areia, que por sinal, tinha uma textura boa de fazer bolinho com a mão e ficar esfregando. Às vezes eu encontrava umas conchinhas, mas não entendia por que as pessoas gostavam de pegá-las, por isso lavava e as devolvia para o mar.

Aos poucos fui percebendo que eu me enganei a respeito do tamanho. Ele se tornou menor para mim, só o mar continuava imenso, mas confesso que antes eu não conseguia ver sua imensidão, então ele não tinha tamanho naquela época. Hoje eu consigo ver melhor. E por conta dessa nova perspectiva eu enxerguei aquilo que estava bem longe da gente. Era uma placa pedindo pra não ultrapassar, avisando sobre o perigo. 

Sempre fiz as coisas certas, ao menos o certo para meus pais. Mas dessa vez eu optei por fazer aquilo que era certo somente para mim. Definitivamente, aquilo parecia estar certo somente para mim, até mesmo porque fizeram uma placa pedindo para não ultrapassar, o que significa que para outras pessoas, ultrapassar aquilo seria um erro. Para mim não era.

A areia é um pouco mais branca, acho que onde eu estava a água não batia muito, mas a primeira coisa a notar é a falta de lixo. Já não se encontra plástico, papel ou até mesmo resquício de comidas supostamente já ingeridas. Acho que quando tiver festas pela área que todo mundo fica, vou ultrapassar de novo porque aqui não vai ter cheiro de xixi.

A respeito disso, eram só essas palavras que eu tinha a dizer. Não vou me esforçar para fazer um grande final, bem metafórico, porque não quero me esforçar para falar sobre uma coisa que poderia desenvolver com muito mais de naturalidade e verdade. Por isso, o final fica assim mesmo, bem cru. Fica a seu critério fritar ou assar.

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